John Malkovich

POR TULLIO DIAS
A MAIORIA DAS PESSOAS JÁ SE SENTIU INSATISFEITA COM O RUMO DE SUAS VIDAS. Seja no emprego ou num relacionamento familiar/amoroso, é comum fantasiar como seria viver uma vida completamente diferente. Ser uma pessoa rica, bonita, bem sucedida. Ou pelo menos se sentir reconhecido e amado por pelo menos 15 minutos. O roteirista Charlie Kaufman explorou esse conceito de uma maneira muito original em Quero Ser John Malkovich, longa-metragem de estreia de Spike Jonze.
No filme lançado em 1999, e estrelado por John Cusack, Cameron Diaz, Catherine Keener, e pelo próprio John Malkovich, os personagens descobrem um portal que leva a pessoa diretamente para o inconsciente de Malkovich. Toda a experiência dura no máximo 15 minutos, mas é o suficiente para cada um sentir como é ser alguém com um propósito definido, com uma profissão consolidada, alguém que já encontrou o seu lugar no mundo. E isso mexe demais com a cabeça do trio principal, especialmente Cusack e Diaz, que ficam apaixonados pela provocante personagem de Keener.

O script de Kaufman não se preocupa em explicar de verdade a origem do portal. Em determinado momento um dos personagens secundários revela algumas informações, mas nada conclusivo. Uma decisão acertada, pois deixa no ar o mistério non-sense e ainda dá a pista para explicar o destino de Craig (uma eterna vítima do amor não correspondido). Pouco importa a origem real do andar 7/2 ou de como é possível existir um portal capaz de levar uma pessoa para dentro da cabeça de outra: Quero Ser John Malkovich é uma história sobre pessoas infelizes e perdidas em suas vidas, sem saber quem são. A viagem para o insconsciente do ator é apenas um mero detalhe para algo maior.
A bela introdução com o show dos títeres de Craig deixa evidente a vontade do personagem em ter uma vida diferente e usufruir de carinho e reconhecimento na carreira. Ele imagina os aplausos, a atenção, a chance de ser desejado. O próprio título dá pistas sobre o enredo, mas Jonze faz questão de deixar o espectador ciente disso desde o começo. Infelizmente, momentos depois o roteiro repete a ideia de uma maneira pouco sutil, praticamente jogando na cara do público sobre o que é o filme.
Quero Ser John Malkovich marcou o belo começo da carreira de Jonze no cinema, cujo nome era mais conhecido no universo dos videoclipes. Ele dirigiu “Praise You” e “Wheapon of Choice”, do Fatboy Slim; “Oh, It`s So Quiet”, da Bjork; vários vídeos do Beastie Boys; e mais recentemente trabalhou com os canadenses do Arcade Fire no curta-metragem The Suburbs. Ao lado de Kaufman, o cineasta criou uma obra única e que evolui a cada revisitação e convida o espectador a refletir sobre a sua própria identidade. Sem dúvida, um dos filmes indispensáveis da década de 90.
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