Estão Mentindo para Nós

Essa idéia já não é mais um ponto de vista de “conspiração”. Ouça atentamente: ela é uma premissa universal e velada em qualquer debate político moderno.
Quem deixou vazar o quê sobre quem? Qual foi o erro colossal que causou a mais recente pilha de cadáveres? O presidente viciado fumou ou não fumou seu cachimbo no conservatório? Além dos detalhes desvairados da manchete do dia, é geralmente dado como certo, por ambos os lados, que estão mentindo para nós. A única coisa que precisamos descobrir é: quem?
Essa questão deveria ter uma resposta fácil. Muitos de nós temos recursos inimagináveis. Quinze minutos no Google podem dar qualquer coisa a qualquer um, desde manuais de assassinato da CIA ás informações confidenciais dos negócios do presidente norte-americano, até a filiação do primeiro-ministro italiano a um grupo secreto ligado à violência política, lavagem de dinheiro e até ataques terroristas. E tudo isso será autêntico e revoltante.
Conhecimento oculto, por mais estranho que possa parecer, muitas vezes não está mais escondido. Ele nos rodeia. Se você olhar com atenção, tudo está conectado. Fatos irrefutáveis sobre uma lista fascinante de horrores estão a nossa disposição com tamanha abundância, que as verdades mais básicas – aproximadamente quantos milhares de civis morreram em um determinado país, por exemplo – deveriam ser fáceis para qualquer um acreditar.
E, mesmo assim, não acreditamos. Tudo que sabemos é que estão mentindo para nós.
Como pode ser?Talvez algumas das nossas conexões ocultas possam revelar bastante.
Como exercício, uma vez tentei verificar quantos passos eu precisaria para me ligar a Hitler, Stalin e Mao – no melhor estilo “Seis Graus de Separação”. Para minha surpresa nunca precisei dos seis passos. Só tive de usar quatro com Mao. Para usar o caso de Hitler como exemplo, um dos meus amigos mais próximos trabalha como jornalista investigativo (1) e passou boa parte de seu tempo livre como um notório agente da CIA (2), que trabalhou muitos anos no Chile com um fugitivo nazista (3), que era próximo, isso mesmo, de Hitler (4).
Então, eu estou ligado a Hitler, Stalin e Mao Tse-tung? Essa é uma palavra que me assusta, mas eu preciso digitá-la: sim. Nós podemos discutir quantos graus importam, mas a resposta final está bastante clara.Quanto o Hitler: eu sou realmente amigo do meu amigo, vivo por vontade própria em um país que acolheu criminosos de guerra e me beneficiei dos resultados econômicos de uma política brutal. Estou ligado a ele, de fato, dois graus além do que eu gostaria.
E agora, ainda dentro dos seis graus de separação, você também está ligado.
É claro, você pode escolher jamais ler documentos detalhados sobre criminosos de guerra que receberam proteção da CIA, ou negar os fatos históricos que mostram o apoio americano a políticas brutais comandadas pela Wall Street. Você pode recuar e fazer de conta que nenhum grau de separação importa além do primeiro. Obviamente não somos responsáveis pelo que é feito em nosso nome. Assim você está liberado.
Parabéns! Ei, eu invejo você!
No entanto, se estiver mais interessado na verdade do que em seu conforto: você provavelmente vive no mesmo país que eu e, provavelmente, fez nada ou quase nada para mudar a exploração impecável que nosso país impõe aos países em desenvolvimento. Aí você entra com uns dois passos, pelo menos.

Agora vem a parte difícil: quando uma grande instituição age em seu nome – com ou sem a sua aprovação – qual é o tamanho da sua responsabilidade? Acredito que muitas discussões ao lado dos bebedouros, nos programas de rádio e nos talk shows da manhã de domingo sejam sobre isso.
O aquecimento global é real? Qual é o tipo de carro que você dirige e quanto combustível você usa?
Os sindicatos de trabalhadores são uma boa idéia? No que você trabalha?
Menos impostos para os ricos é justo? Quanto dinheiro você tem e como vão seus investimentos?
Qualquer busca por verdades políticas envolve, inevitavelmente, o exame das verdades pessoais.
Em termos religiosos, esse é o local onde a luta pela própria alma começa. Quanta verdade nós estamos dispostos a buscar? Quais serão as duras conseqüências de se buscar a verdade – toda ela – sobre nós? E estaremos dispostos a abraçá-la pelo bem maior? Quanta responsabilidade somos capazes de agüentar.
Estamos sendo enganados. Por nós mesmos. E são nesses momentos que nós (você e eu) permitimos que as coisas erradas aconteçam. Ironicamente, é nesse instante que se nega a responsabilidade pelas tragédias que são de nossa responsabilidade.
Essa pode ser a única verdade oculta que não pode ser encontrada na internet.
Nesse caso, as coisas só podem mudar quando não nos esquivamos de nossas falhas, quando paramos de acreditar que somos perfeitos e simplesmente tentamos fazer o bem.
As ações que tomamos depois disso, não importa quais sejam, serão atos de fé – não em uma divindade, mas na virtude latente da própria humanidade.
Bob Harris da HQ “Revelações”

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