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Mostrando postagens de setembro, 2007

Eterno

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O que há com a lua hoje. Não sei dizer, talvez seja seu formato, sua circunferência imperfeita, suas manchas negras, seus segredos. Quanto mistério deve existir neste espaço infinito, o que será que você sabe sobre nós, oh! Rainha da Escuridão. Nós que a vossa face observa complacente, que invadimos seu palco para interpretar nosso curto teatro da vida. Pergunto-me por que estas questões se passam pela minha cabeça. Porque logo esta noite passei a admirar aquela que encantou o céu noturno por toda minha vida, e só agora pude perceber sua formosura. Talvez seja uma espécie de solidão. Talvez eu esteja procurando no céu algo que preencha o vazio dentro de mim. Espere! Mas não há vazio dentro de mim. Ou há? Não importa, pois a hora corre solta quando o pensamento divaga. Já é tarde e amanhã preciso acordar cedo. Deito-me na cama, fazendo o possível para esquecer minha repentina admiração pelos corpos celestes. Porém minha preocupação logo se dissipa, pois um sonho começa a tomar o lugar d

Sangue Pt. 5

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Ok. Aqui estou, no meio do nada, cercado por um monte de evangélicos egocêntricos que pensam ser superiores ao restante da humanidade, com um pastor maluco que diz ser meu pai e ter dois mil e quinhentos anos de idade. Fico imaginando se quando acordar vou conseguir lembrar deste sonho, e porque diabos eu não acordo logo. O homem que se diz meu pai continua a olhar fixamente para mim, mas agora eu vejo nitidamente o brilho vermelho em seus olhos e sua expressão já não é mais tão tranqüila e amigável como antes. – “Mais uma vez a história se repete, e a cria se volta contra o criador. Infelizmente ‘filho’, meu tempo é curto e não posso desperdiçar o trabalho que venho realizando por quase cinco gerações.” – Os ajudantes, que antes estavam boquiabertos, retomam a compostura e assumem posições distintas ao meu redor. – “Parece que herdou a mediocridade de sua mãe. Se você quer agir como um inferior deve ser tratado como um. Segurem-no!”. Cercado por todos os lados, observo os ajudantes ap

Sangue Pt. 4

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Entro em uma sala grande, a parede do fundo está totalmente coberta por uma cortina, um pouco a frente da cortina há uma mesa grande de madeira e, sentado em uma poltrona, atrás da mesa o “pastor” olha para mim com um sorriso no rosto. Ao seu lado, seus jovens ajudantes assumem postura militar, dois de cada lado. “Finalmente você chegou, meu filho, a muito aguardo esse momento, por favor sente-se.” - diz o pastor com sua voz melodiosa apontando para uma cadeira do lado oposto da mesa. Sento-me lentamente na cadeira, olhando nos olhos do pastor. “Ducar, sirva um pouco de água para o nosso garoto.” - olho para traz e vejo o homem com sobretudo da biblioteca. Desta vez ele está sem chapéu e eu posso ver que seu rosto está coberto de cicatrizes de queimaduras, um de seus olhos é quase fechado, horrível. Ele pega uma jarra que está em cima de uma mesinha do lado direito da porta, e enche um copo com água. Ele me entrega o copo e eu não consigo desviar os olhos de seu rosto. “Exposição exces

Sangue Pt. 3

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Confesso que, na hora, não dei muita atenção ao ocorrido, continuei com minha vida normalmente, até a morte de meu pai. Meu pai tinha 75 anos, foi numa segunda-feira de madrugada que eu recebi seu telefonema. Estava com muita dificuldade para falar, em meio a gemidos roucos me disse para pegar o diário na escrivaninha do quarto e o telefone ficou mudo. Assim ele morreu, ataque cardíaco fulminante. Desliguei o telefone e corri para casa onde ele morava e lá estava seu corpo sem vida, ainda com o telefone na mão. Após o enterro, fui até seu quarto e peguei o diário, sentei em sua cadeira de leitura e comecei a folheá-lo. O diário começa no dia 13 de dezembro de 1974, dia de meu nascimento e da morte de minha mãe. Meu pai sustentou durante minha vida inteira que minha mão havia morrido de complicações no parto, eu nunca tive razões para duvidar disso. Vou reproduzir alguns trechos do diário assim como foi escrito por meu pai: “Conheci Madalena grávida. Ela nunca quis falar sobre o pai da

Sangue Pt. 2

Sempre fui apaixonado pela leitura, talvez devido a minha doença ou a morte prematura de minha mãe, meu pai sempre foi superprotetor, impedindo, sempre que possível, que eu saísse de casa o que me levou aos livros. Dias e noites de leitura, imerso em todos os assuntos possíveis, absorvia conhecimento como uma esponja. O que me deu base suficiente para arrumar emprego na redação de um jornal de grande tiragem. Depois de um ano já trabalhava em casa, no segundo já tinha comprado a Harley, apesar de nunca usa-la, talvez o simples fato de olhar para ela me dava a sensação de liberdade que nunca tive. Era uma tarde quente e eu resolvi sair um pouco do apartamento e aproveitar o ar condicionado da biblioteca. Estava olhando a parte sobre ocultismo, que conhecia como a palma de minha mão, quando percebi um livro diferente. Como todo fã de literatura, qualquer livro que tenha uma encadernação antiga, daquelas com lombada redonda e costuras expostas, chamam logo minha atenção. Aquele livro em e

Sangue Pt. 1

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"... Seja, pois, o motivo de tuas ações e dos teus pensamentos sempre o cumprimento do dever, e fazer as tuas obras sem procurares recompensa, sem te preocupares com o teu sucesso ou insucesso, com teu ganho ou o teu prejuízo pessoal. Não caias, porém, em ociosidade e inação , como acontece facilmente aos que perderam a ilusão de esperar uma recompensa das suas ações . ..." ( Baghavad - Gita ) Finalmente encontrei a cidade. Cinco dias comendo poeira, quase sem dormir, me alimentando pouco e com este sol insuportável fritando meus miolos. Não sei se aguentaria mais um dia. Vejo a cidade no vale abaixo de ponta a ponta, é pequena e isolada, praticamente no meio do nada, pergunto-me como as pessoas conseguem viver em um lugar assim. Dou partida novamente em minha Harley , meus braços estão dormentes, quase não consigo acelerar. Preciso arrumar um lugar para descansar. Sinto novamente o gosto de terra na boca, reparo que quanto mais próximo fico da cidade mais inóspito e sem v

Um Conto de Natal

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Era uma vez um anjo chamado Jeremias. Ao contrário dos outros anjos do Céu, Jeremias tinha um sonho: ele queria tornar-se humano e viver na Terra. Todos no Céu achavam-no estranho, não conseguiam compreender por que alguém deixaria o Paraíso para viver junto com os homens. Imaginem só, diziam em sua ausência, conviver no meio de tanta violência e miséria, sentir fome e frio, ter que lutar constantemente contra os pecados capitais. Também tinham medo da reação de Deus, afinal ser anjo é uma dádiva concedida por Ele. Não que Jeremias não gostasse de seu trabalho, ele adorava ajudar os humanos, e era justamente por isso que queria tornar-se um deles. Acreditava que desta maneira poderia entender melhor a humanidade e ajudá-los com maior eficiência. Além disso, queria sentir o que os humanos sentiam, sentir a grama molhada pelo orvalho em seus pés, sentir o vento em seu rosto, o calor do sol, o gosto salgado da água do mar, e todas as coisas simples que os humanos geralmente nem percebem.

A Dama da Noite

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Por muitos caminhos eu andei Minhas pegadas deixaram dor e sofrimento Falsidade e mentira encontrei De sobras de humanidade eu buscava sustento Dias nublados, noites frias O concreto da cidade e o trânsito violento Mostram a realidade em movimento Vazia, fria... Luz do sol raiando no horizonte Flash de esperança distante Doce lamento Paz e tormento Surgindo da luz, um anjo alado mostra o seu esplendor Caminhando no ar sua silhueta começa a ganhar forma Quanto mais próximo de mim ele está, Mais forte escuto meu coração palpitar No céu vermelho, vejo o corpo feminino do anjo se formar Tamanha beleza, Deusa, Princesa Pele de veludo, estrelas no olhar - a queimar... E se apaixonar Oh! Dama da noite, rainha do sol És a senhora do meu sonhar, dona do despertar Se estou a divagar, não quero mais retornar Pois ficarei eternamente a lhe admirar Erguerei um templo, construirei um altar Irei te idolatrar, te cortejar Você será a razão do meu viver, o fim do sofrer Sentirei você, respirarei você

Viajantes da Tormenta

I No sol do deserto o viajante angustia O seu corpo envolto em panos chora em prantos Sua esperança e alegria acabou-se com o romper do dia Nada mais resta ao viajante desperto, Que deitar-se no infinito deserto. II (Delírios) Mas o que é aquilo que vê-se ao longe Seria a morte a espreitar ou um anjo para me levar Sua forma divina mostra a natureza feminina E na cabeça do viajante um pensamento atormenta: O que mais desejo, um gole de água fria ou sua pele macia?

Sem Nexo

Por que esta tão triste? Por que não percebes mais o brilho do sol? Por que não sorri mais aquele sorriso lindo? Onde encontrar o coração que chora Mais próximo, tão distante, disforme... Estenda a mão não percebes O rio continua correndo não deixe que leve embora Parte da vida, reprimida... Ilusão em forma de despedida Olho para sua face na memória Estampada nas esquinas da lembrança Quem consegue esquecer Tão próximo, mais distante, disforme... Dias longos, noites escuras Nas ruas cada vez mais sem sentido Anda aquele que está perdido As horas devoram o tempo Contando os minutos para nada Caminhando no vazio Pensando, vagando, esperando... Tolo em forma de gente Procuras aquilo que possui e perdes o que tem Mente conturbada... Cego... Surdo... Apaixonado... Humano.

Meu Mundo

Me dê a sua mão Venha comigo Que vou lhe mostrar meu mundo Me dê a sua mão E veja com os meus olhos Que vou lhe mostrar a beleza e a felicidade Deixe-me derrubar as barreiras da visão comum E mostrar-lhe o mundo como ele realmente é... Infinito Deixe-me lhe ensinar a ver o mar em um grão de areia E o céu em um ramo que aflora Deixe-me lhe mostrar a importância da vida E toda a beleza que ela contém Vamos correr descalços na grama E sentir a energia da terra fluir em nossos corpos Vamos ver um pôr de sol E admirar a arte da natureza em todo seu esplendor Permita que o sentimento tome conta de você Deixando o amor surgir em seu coração Permita que eu navegue pelas curvas de seu corpo Transformando cada pedacinho dele em uma jóia rara Juntos nós caminharemos até a estrela mais próxima E lá construiremos nosso santuário De hoje em diante, você nunca mais se sentira sozinha, pois toda vez que olhar para o céu, na direção da estrela mais brilhante, saberá que eu estarei lá, de braços abertos

Ode à Beleza

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Certo dia, há muito tempo, num reino distante, um Bobo da corte caminhava pelos jardins do castelo real e parou perto de uma rosa. Era uma rosa grande, com um vermelho brilhante que fazia com que se sobressaísse perante as outras. O Bobo ficou fascinado e passou a mão levemente sobre as pétalas da rosa, que eram macias e suaves. Em sua inocência ele pensou: “Seria isso a beleza?” A pergunta passou a atormentar o Bobo. Ele decide perguntar ao Mago, que tudo sabe, o que é beleza? E o Mago diz que ele é jovem demais para conhecer a beleza, quando for mais velho, ela aparecerá para ele como um anjo vindo do céu. Mas o Bobo não ficou satisfeito com a resposta do Mago e, quando andava pelos corredores do castelo, deparou-se com o Príncipe que admirava sua própria imagem no espelho. Com todo respeito e cortesia, ele pergunta ao Príncipe sobre o sentido da beleza. O Príncipe joga a imensa pluma de seu chapéu para trás e, sem desviar o olhar do reflexo, diz ao Bobo que se ele quiser ver o que

Sombras

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No beco escuro, a chuva fina molha meu cabelo O vento frio corta a minha face e congela minhas mãos Nas paredes do beco, seres se movem freneticamente Os faróis dos carros faz com que estes seres realizam uma estranha dança Alguns se arrastam no chão, outros parecem levantar vôo Olho para eles apenas de relance, tenho medo de ver seus rostos Sinto um imenso alívio quando saio do beco para a rua movimentada Mas um calafrio me avisa que há algo errado De alguma forma um destes seres saiu do beco e esta me seguindo Sei que não devo olhar para trás, mas não resisto Paro e me viro Lá esta ele, deitado no chão, escondido em seu manto negro As pessoas que passam ao meu redor parecem não notar o estranho ser Uma delas até parece pisar em sua cabeça, mas ele continua imóvel, frio, impassível Não resisto a tentação de tocá-lo Minha mão aproxima-se dele e ele parece estender a sua em minha direção Lentamente, nossas mãos se tocam... Então, algo estranho acontece Não sinto minha mão tocá-lo, mas

A Última Poesia

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“Toque-me. É tão fácil me deixar Aqui sozinho com a memória Dos dias que passei ao sol.” Havia um homem caminhando no deserto. Ele olhava para os lados e via somente o vazio. O Sol sugava a água do seu corpo como um sanguessuga. Ele queria apenas descansar, fechar os olhos. E o homem caiu na areia... Quando a vista do homem começou a escurecer, ele deixou escorrer a areia entre os dedos e olhando para o astro brilhante pediu: “Oh! Você que consome a minha vida, dai-me algo que me faça viver de novo, ou deixe-me partir para o vale das sombras.” E o homem, em seu delírio, pensou ver o Sol pousar na Terra e de seu centro brilhante surgir uma forma que caminhava em sua direção. Mas ele desfaleceu. Alguém dava água na boca do homem e a vida lentamente começou a voltar para seu corpo. Ele abriu os olhos e o que viu deixou-lhe fascinado. Havia uma mulher na sua frente, suas mãos seguravam-lhe a cabeça enquanto dava-lhe água na boca. Ele pensou estar sonhando; ela era linda, seus cabelos eram

Os Pássaros da Solidão

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Certa noite tive um sonho estranho. Nele, eu acordava para ir trabalhar, tomava café, fazia a barba e me trocava, como faço todas as manhãs. Foi quando sai de casa que as coisas começaram a ficar diferentes, não sei bem como explicar, mas havia algo estanho no ar, não se ouvia nenhum barulho, nem um carro, nem um pássaro, nada. Olhava para as casas da rua e me parecia que todas estavam abandonadas, as folhas das árvores se moviam suavemente, com uma brisa sem som. Próximo ao banco da praça, um cachorro todo encolhido, tremendo de frio (eu não sentia frio), me encarava seus olhos negros e tristes. Ao chegar no ponto de ônibus, comecei a ficar preocupado, não havia ninguém na avenida, nem um carro passava em ambas as mãos. Uma densa neblina impedia-me de enxergar além de cinqüenta metros. Estava olhando na direção em que costumava vir o ônibus, quando este surgiu do meio da neblina, devagar, sem emitir nenhum som. Dei sinal e o ônibus parou. Quando subi olhei para o motorista e me toquei