O Nascimento da Mente Global

por Tim O’Reilly em artigo para o Financial Times

A melhor simbiose entre o homem e o computador é quando o programa aprende com os humanos mas vê coisas que ele não veria Consciência global. Nós já ouvimos isso antes. Nos anos 60, nós todos iríamos estar misticamente conectados, ou iría ser uma máquina super-inteligente – a skynet do Exterminador do futuro – que seria inimiga da humanidade. Mas e se a realidade é mais mundana?

O cientista de computação Danny Hillis uma vez disse: “A consciência global é responsável pela tomada de decisão das embalagens de café decafeinado serem laranjas.” E claro, o mecanismo pelo qual a cor se tornou um quase-universal símbolo para o café decafeinado nos EUA é exatamente o mesmo pelo qual centenas de milhões de pessoas tem compartilhado conhecimento de Lady Gaga, Newton, Einstein e Darwin, e, por essa razão, de muitas outras coisas verdadeiras e falsas.

O que é diferente hoje, entretanto, é a velocidade na qual o conhecimento propaga. Notícias, entretenimento e opiniões se espalham pelas redes sociais, websites e mecanismos de busca em um processo gradativamente indo perto do real-time. Essas coisas que surgem no topo estão sendo decididas não pelos executivos de mídia mas pela sua força viral.

Alguém pode dizer que isso são os mesmo que governam o mecanismo de capturar e retransmitir conhecimento humano que tem dirigido o avanço da civilização. Mas mesmo como o avanço do alfabetismo e do livro impresso nos levou a era moderna, a aumentada capacidade de transmissão de conhecimento usando as redes eletrônicas está nos levando a um futuro bastante diferente.

A web é um perfeito exemplo do que o engenheiro e cientista da computação Vannegar Bush chamou de “Aumentamento da Inteligência” (“intelligence augmentation”) por computadores, em seu artigo de 1945 “As We May Think” no jornal The Atlantic. Ele descreve um futuro onde a habilidade humana de seguir uma trilha de conhecimento associativo iria ser possibilitada por um aparelho chamado “the memex”. Isto iria aumentar a memoria humana para a lembrança com maior precisão. O Google nos dias de hoje se tornou este “memex”.

A web tem também demonstrado é o que JCR Licklider, outro visionário do início da computação, chamou de “simbiose homem-máquina”. Os humanos criam documentos que fazem a web e provêm as ligações (links) entre elas. Os mecanismos de buscas seguem estas trilhas, avaliam os caminhos mais fortes, e mostram o caminho para outros do que achou. Quando os algoritmos para achar o documento “certo” se aprimoram, nós ficamos mais espertos e quando os “spammers” e outros “malware” superam os algoritimos, nós ficamos mais burros.

A simbiose homem-máquina não é apenas sobre a recuperação de conhecimento, é também sobre a criação de conhecimento. Nossos computadores não tem inteligência sem nós, mas eles aceleram nossa inteligência coletiva a uma velocidade que nunca vista antes.

Quando a web se faz móvel, ainda mais coisas interessantes começam a acontecer. Um humano com um smartphone pode literalmente ver “around corners” e pelo tempo. E mais, nossos fones são olhos e ouvidos do que está começando a parecer como uma mente global. Fotos são automaticamente enviadas para os bancos de dados na nuvem, cada um categorizado com sua localização e o horário que foram tirados. Aplicativos como o Shazam pode ouvir uma música e nos dizer quem está cantando. O som ambiente de uma sala pode ser usado para localizar sua localização.

Para entender o que a combinação de sensores móveis, bases de dados na nuvem e algoritmos de computador aumentados pela ação humana é capaz de fazer, considere um carro que dirige automáticamente sem motorista. Stanley, um carro assim, venceu o prêmio do desafio US Darpa (Defense Afavanced Research Projects Agency) em 2005 ao navegar por um caminho de 7 milhas em um pouco menos de sete horas. Ano passado, o google demonstrou um veículo automático que dirigiou por mais de 100.000 milhas em tráfego normal. A diferença: o Stanley usou algoritimos de inteligência artificial e o carro do Google usou a memória aumentanda de milhões de milhas de estrada inseridas por motoristas humanos que construíram a base de dados do Google StreetView. Estes carros gravaram incontáveis detalhes – a localização de semáforos, obstáculos e até qualidade da superfície.

Isso é a simbiose homem-computador no seu melhor, quando o programa de computador aprende pela atividade de professores humanos e seus sensores notam e lembram de coisas que seres humanos não seriam capazes. Este é o futuro: uma quantidade massiva de dados criados pelas pessoas, estocados em aplicações na nuvem que usam algoritmos inteligentes para extrair significado disso, alimentando de volta resultados dessas pessoas em equipamentos móveis, gradualmente gerando aplicações que emulam o que elas aprenderam dos “feedback loops” entre essas pessoas e seus aparelhos.

No melhor dos casos, nós podemos ver a simbiose criativa entre o homem e a máquina. Entretanto, é fácil de se ter um balanço errado: podemos simplesmente olhar para os excessos dos mercados financeiros da última década e ver o risco de algoritmos saindo de controle nas mãos de empresas e indivíduos procurando apenas sua própria vantagem.

A mente global está ainda em sua infância. Nós podemos fazê-la para ajudar a construir um mundo melhor, ou nós podemos fazê-la para ser egoísta, injusta e de curto-prazo em sua maneira de enxergar.

O autor e designer Edwin Schlossberg disse um dia, “A capacidade de escrever cria um contexto no qual outras pessoas possam pensar”. Este é um ótimo momento para pensar profundamente sobre o futuro. Ele está cada dia mais nas mãos dos computadores para aumentar a efetividade – e as escolhas – daqueles que o usam. O grande desafio do século 21 irá ser ensiná-lo a diferenciar o certo do errado.

fonte: jornaldoempreendedor.com.br

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