Psicologia do Sono

Atualmente a comunidade científica discute cada vez mais a importância do sono e de sua qualidade, já que sua alteração pode trazer diversas repercussões clínicas e comportamentais. O sono, fonte de interesse científico, é para alguns pesquisadores uma incógnita. A palavra sono nos vem do latim somnus; em grego é Hipnos. De acordo com a mitologia, Hipnos é irmão gêmeo de Tânatos (que significa morte), nascido de Nix (noite) por partenogênese (desenvolvimento a partir de um óvulo não fecundado). Em grego, Yrvos (Hýpnos) vem da raiz indo-européia swep (dormir, aquietar-se) e a palavra urvos (Hýpnos) deu origem ao swebban (fazer adormecer, matar, no inglês antigo).

Assim, o sono é algo que causa o interesse de estudiosos e historiadores desde a origem dos tempos. É vital.

As horas que são entregues ao sono afetam de modo geral a saúde humana. Porém, mais relevante que a quantidade é a qualidade do sono. De acordo com Reimão (2000) o indivíduo pode chegar a passar cerca de um terço da sua existência em sono. Entretanto, o número de horas de sono para adultos pode variar muito, para mais ou para menos, e a diferença entre a sensação de sono adequado ou insuficiente é a qualidade, essência fundamental que irá definir a conseqüência no dia posterior, a ausência de sono no decorrer do dia e o fato de sentir-se refeito.

A medicina ao envolver-se com a problemática do sono, concentrou-se na compreensão deste estado fisiológico complexo e de sua arquitetura, regulação, função e fisiologia, utilizando-se de um suporte de aparelhos eletrofisiológicos com capacidade para registrar a atividade elétrica cerebral nos seres humanos, visando uma perspectiva cientifica para as variáveis levantadas.


Em 1929, com o desenvolvimento do eletroencefalograma (EEG) por Hans Berger, o sono era considerado como um fenômeno passivo. Acreditou-se também que o sono se desse por deficiência, pois o cérebro não receberia mais os impulsos nervosos provenientes dos órgãos dos sentidos; o sono era considerado como uma simples diminuição do estado desperto. Em 1953, com a descoberta do sono paradoxal ou sono REM (rapid eyes movement – movimento rápido dos olhos), chegou-se ao ponto de que o sono é um fenômeno ativo. (SOUZA; GUIMARÃES, 1999).

Além da identificação do sono com movimentos oculares rápidos (REM), em 1953, outro fato que despertou o entendimento do sono foi o redimensionamento do hipotálamo no controle do sono-vigília em 1998, antes atribuído apenas a estruturas localizadas no tronco cerebral e tálamo. (ALOE; AZEVEDO; HASAN, 2005).

Com a descoberta do sono REM veio à confirmação de que o sono não é um estado tranqüilo, onde o corpo funciona em marcha lenta. Das pessoas que são acordadas durante o sono REM, 80% se lembram com nitidez de estar sonhando naquele momento. (USHER, 1991).

A este estado fisiológico, comum a todos os vertebrados e a quase todos os animais, o sono, apesar de cercado por mistério e fascinação tem seu estudo científico iniciado recentemente em meados do século XX. Por ser um tema amplamente estudado, mas ao mesmo tempo ainda obscuro, o conceito de sono é algo que apresenta algumas divergências de autor para autor.

Este estado fisiológico complexo, o sono, não deve ser considerado somente como um estado de desligamento da rotina diária, tampouco como perda de tempo, ou extensão do dia como para muitos, a real importância do sono deve ser descoberta pela sociedade em geral. Estudantes, trabalhadores, pais e mestres precisam reconhecer que durante o sono nosso organismo desempenha diversas funções essenciais para nosso equilíbrio físico e mental.

Os distúrbios do sono acarretam em um grande número de acidentes de trânsito e ocupacionais. Os custos e as conseqüências relacionadas aos distúrbios do sono podem ser direta e indiretamente significante a toda sociedade. Desde acidentes domésticos, ocupacionais, de trânsito, entre outros, os distúrbios do sono podem produzir seqüelas maiores. Indivíduos com distúrbio do sono, não expõem apenas a sua saúde, mas compromete toda sociedade em um risco de acidente de transito ou de trabalho/industrial.

De acordo com Martinez (1999) dominar o sono deveria ser uma meta de qualquer governo sábio. Continua-se, entretanto, ignorando a cadeia do sono e considerando-os inevitáveis. O sono é algo que foge do nosso controle, e ainda que se tente encurtar o tempo desta condenação, nos enganamos, já que apenas parcelamos a sentença em cochilos esporádicos. A insônia é uma vitória sobre a prepotência do sono, mas pagamos por ela com olheiras e a mente embotada do dia seguinte, pois o sono é vingativo.

Segundo Madalena (1979), a maioria dos autores divide a patologia do sono em distúrbios para menos (hipossônia) e distúrbios para mais (hipersônia). A hipossônia, ou seja, a falta de sono pode estar relacionada com a faixa etária, de modo que o sujeito não se sente diretamente atingido, conseguindo ter estabilidade para a realização da sua rotina, entretanto, quando decorre de uma desordem funcional, doença orgânica ou tensão psíquica ela se torna patológica e conseqüentemente, o sujeito sente-se diretamente afetado física e psiquicamente. Já a hipersônia, que é identificada como o estado de sonolência excessiva, pode ser espontânea ou provocada, transitória ou permanente. A sonolência pode apresentar-se como fisiológica ou condicionada por inúmeros fatores.

Com base em diferentes autores e épocas, percebo que a má qualidade do sono traz inúmeros transtornos que podem prejudicar o indivíduo em todas as áreas, desde a social, emocional até a laboral. Quer por opção ou devido à demanda e exigências da sociedade atual somos constantemente expostos à privação de sono e a seus conseqüentes efeitos adversos.

REFERÊNCIAS:
REIMÃO, R. Temas de medicina do sono. São Paulo: Lemos Editorial, 2000.
SOUZA, J. C.; GUIMARÃES, A. M. Insônia e qualidade de vida. Campo Grande – MS: Editora UCDB, 1999.
ALOE, F.; AZEVEDO, A. P. de; HASAN, R. Mecanismos do ciclo sono-vigília. Revista Brasileira de Psiquiatria, maio 2005, vol.27 supl. 1, p.33-39. ISSN 1516-4446.
MADALENA, J. C. O sono. Porto Alegre: Fundo Editorial Byk Procienx, 1979.

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