20 contos para conhecer Lovecraft

Quem gosta de terror certamente ouviu falar em Stephen King, um dos grandes nomes contemporâ-neos do gênero.

Mas e se eu te dissesse que, se Howard Phillips Lovecraft não tivesse existido, não existiria Stephen King? Parece absurdo, não? Mas o principal fundamento dessa afirmação vem do próprio King:
“Agora que o tempo nos permite olhar para sua obra com algum distanciamento, parece não restar dúvida de que H.P. Lovecraft permanece insuperado como o maior expoente do horror clássico do século XX.”
E o curioso é que, apesar de tamanha contribuição para o gênero, Lovecraft é pouco conhecido como autor, quase transparente, apesar de ter uma bibliografia considerável, disponível completa aqui em inglês. Mas enquanto o público o desconhece, os roteiristas, escritores, diretores e artistas fazem inúmeras referências às suas obras.
Duas das criações mais icônicas de Lovecraft são mencionadas com frequência mundo afora. Uma que já visitou até South Park é a entidade cósmica gigantesca aonde a mera visão já leva qualquer um a loucura: Cthulhu.



A outra criação é o Necronomicon, o famoso Livro dos Mortos, como é comumente chamado mundo afora. O livro de necromancia, magia negra e demonologia ganhou até uma franquia de filmes com Uma Noite Alucinante e o remake A Morte do Demônio.



Inclusive, uma das várias bandas que tem músicas influenciadas por Lovecraft, é Metallica. 

Ouvir “Call of Cthulhu” e “The Thing That Should Not Be” nunca mais será mesma coisa depois de ler alguns contos do escritor.
Mas não só de terror se faz Lovecraft, pois alguns de seus contos também flertam com a ficção científica. Sempre a par dos avanços científicos daquela época, ele mesclou o terror clássico aos tempos modernos ao incrementá-lo com a ciência de sua época.
Só que, como quase todos os grandes autores do passado, não teve visibilidade do público ou críticos em vida e conseguiu publicar somente um livro, em 1936, “A Sombra de Innsmouth”.
Para sobreviver em sua vida conturbada, marcada por perdas e obsessões, realizava revisões e fazia ghost-writing. Enquanto isso, suas histórias encontravam espaço para viver nas cartas para amigos e assinantes de um newsletter analógico.
Quando morreu, em 1937, dois amigos e correspondentes criaram uma editora para publicar a obra de Lovecraft, a editora Arkham House.
Suas obras aos poucos ganharam o conhecimento do público e críticos ao ponto de criarem grupos de estudos em cima de suas histórias.
Hoje, sua marca é tão profunda no gênero que existe um termo para descrever o que ele criou: “Lovecraftian” ou “Lovecraftiano”.
Interessado? Então aqui vai uma lista de 20 histórias de Lovecraft que irão te fazer questionar a sanidade.
1. Dagon
“Não entenda minha dependência da morfina como uma fraqueza ou uma perversão. Quando o senhor ler essas páginas rabiscadas às pressas poderá entender, ainda que não por completo, a minha ânsia pelo esquecimento ou pela morte.”
No relato de sobrevivência deste marinheiro em alto mar, a dualidade do autor entre a razão e a ausência dela fica evidente neste que é um dos primeiros contos escritos por Lovecraft na vida adulta.
É difícil falar sobre algo que possui algo em torno de 5 páginas sem nenhum spoiler, mas, vendo por esse lado, é algo em torno de 5 páginas para preparar o terreno para terrores mais profundos. Porque não experimentar?
2. O Cão de Caça
“E conforme eu pronunciava a última sentença demoníaca, ouvi ao longe no pântano o uivo fraco de um gigantesco cão de caça.”
O narrador e seu amigo, St. John possuem um hobby incomum: são ladrões de túmulos. Em suas excursões noturnas a cemitérios, eles guardam os objetos encontrados nas tumbas, criando na casa em que dividem um altar profano com esses tesouros. Um dia descobrem um túmulo de 5 séculos atrás de alguém que, como eles, compartilhava desse gosto e havia roubado algo poderoso de um lendário túmulo.
Neste conto há a primeira menção  o nascimento  do Necronomicon, um livro que contém inúmeras informações sobre magia, necromancia e demonologia escrito pelo árabe louco Abdul Alhazred.
3. Ar Frio
“O senhor quer que eu explique porque temo as lufadas de ar frio; porque estremeço mais do que outros ao entrar em um recinto frio e pareço sentir náuseas e repulsa quando o frio noturno sopra em meio ao calor dos dias amenos do outono.”
Ao conseguir um trabalho em uma revista de Nova York, este jovem editor se muda para uma pensão devido às limitações de seu dinheiro. Após algum tempo ali morando, foi acometido por um fatídico infarto súbito onde buscou a ajuda do dr. Muñoz, o vizinho de cima. Era nítido que este dr. Muñoz era um homem culto, de bom gosto e boa posição social, devido a sua fala eloquente e pela mobília do apartamento. Este curiosamente munido de um eficiente sistema de refrigeramento.
4. A Música de Erich Zann
“Ele não reagiu, e a viola continuou a gritar sem trégua.”
Um estudante universitário, após ser despejado de diversas casas por falta de pagamento, se muda para a Rue d’Auseil. Próxima a universidade e por um valor que poderia pagar, aceitou um quarto no quinto andar em uma casa quase vazia. No sótão acima morava um velho violista alemão que tocava em uma pequena orquestra de um teatro, um homem estranho e mudo chamado Erich Zann. Ao ouvir tocá-lo nos primeiros dias de sua estadia, ficou assombrado e quis conhecer aquelas harmonias que nunca havia ouvido antes.
5. O Chamado de Cthulhu
“Na casa em R’lyeh, Cthulhu, morto, aguarda sonhando."
Este é, sem medo de errar, o conto mais icônico de Lovecraft.
Nele, Francis Wayland Thurston, executor e herdeiro de seu falecido tio George Gammell Angell, encontra uma caixa com um artefato moderno com entalhes de antigos hieróglifos e um punhado de papéis, cujo principal possuía o título “O Culto a Cthulhu”.
O conto é dividido em três partes, sendo as duas primeiras os relatos encontrados do tio com o resultado de suas buscas. Já o último é um relato de um marinheiro que Francis Thurston encontra por acaso.
6. Os Gatos de Ulthar
“Mas todos estavam de acordo em um ponto: a recusa dos gatos em comer porções de carne ou em tomar o leite da tigela era um tanto inusitada."
Se você gosta de gatos (e há porque não gostar?), vai adorar este conto.
Aqui, Lovecraft conta a história da pequena vila de Ulthar e sua lei um tanto peculiar – mas não menos correta – de que é proibido matar gatos.
7. Celephaïs
“Então um rasto pareceu abrir a escuridão adiante, e Kuranes viu a cidade no vale, resplandecendo ao longe, lá embaixo, contra um fundo de céu e mar com uma montanha nevada junto à costa.”
Kuranes sonhou com Celephaïs e decidiu encontrá-la. Precisou encontrá-la. Mais um conto curtíssimo que é capaz de trazer um horror sincero ao levantar questionamentos interiores assustadoramente atuais.
8. A Cor Que Caiu do Espaço
“Por mais que os policiais estivessem acostumados a ocorrências horripilantes, ninguém permaneceu indiferente ao que encontraram no sótão e sob a toalha vermelha e branca no térreo.”
Para se construir uma nova represa, o narrador vai inspecionar o local, tirar as medições e se informar sobre o local com o povo de Arkham. O que ele descobre é que aquela região que precisava vistoriar é conhecida como “descampado maldito”. Quando nenhum morador dá informações, ele procura um velho habitante de Arkham a quem todos mandam ignorar. Ammi Pierce se inclinou e confidenciou com sua voz rouca os acontecimentos mais recentes do que o esperado.
Esse conto também irá ganhar um filme de Richard Stanley que está em produção.



9. O Modelo de Pickman
“E se eu dissesse que tenho um outro estúdio por lá, onde posso captar o espírito noturno de horrores ancestrais e pintar coisas que eu não conseguiria sequer imaginar na Newbury Street?"
O narrador escreve uma carta para seu amigo, Eliot, a respeito de Richard Upton Pickman, um pintor que é considerado pelo narrador o maior pintor que Boston já teve. Apesar de possuir uma arte mórbida que levou pessoas a se afastarem de Pickman, isso a nada importava ao autor da carta. Até a visita que fez ao seu estúdio secreto em North End.
10. Navio Branco
“Porém, ainda mais deslumbrante do que a sabedoria dos anciões e a sabedoria dos livros é a sabedoria do oceano.”
Basil Elton era responsável pelo farol de North Point como seu pai e avô. Mantinha uma relação saudável com os poucos marinheiros que ainda ali passavam e uma de cumplicidade com o oceano. Este lhe contava inúmeras histórias, até que Basil decidiu vivê-las com o capitão de barba e manto do Navio Branco pelos mundos oníricos.
11. A Sombra Vinda do Tempo
“Será que esses casos mais brandos seriam experimentos monstruosos e sinistros de caráter e autoria muito além de qualquer crença respaldada pela razão? ”
Nathaniel Wingate Peaslee, morador de Arkham, formado na Universidade do Miskatonic, estudou economia em Harvard e foi professor de Economia Política na Universidade do Miskatonic por 13 anos. Então teve um colapso durante uma aula. Quando acordou foi diagnosticado com amnésia e não se parecia em nada a pessoa que havia sido. Pouco tempo depois recebeu um diagnóstico adicional: dupla personalidade.
12. Os Outros Deuses
“Às vezes, quando sentem saudades de casa, os deuses terrestres visitam os picos que outrora habitaram na calada da noite, e choram em silêncio enquanto tentam brincar como em tempos antigos nas encostas lembradas."
Barzai, o sábio, estudou a fundo tudo que podia ser estudado, inclusive os deuses terrestres e os Grandes Deuses. Seguido por seu discípulo, ele parte em uma jornada para escalar a montanha Hatheg-Kla em busca desses deuses terrestres.
13. A Busca Onírica por Kadath
“E lembra-te dos Outros Deuses, que são poderosos e irracionais e terríveis e espreitam nos vazios siderais. Convém temê-los."
Randolph Carter sonha com a majestosa cidade de Kadath sem nunca conseguir alcançá-la. Quando reza para os deuses lhe mostrarem o caminho, eles não respondem. Decidido em encontrar a cidade sonhada, ele parte em uma jornada que desafia a própria vontade dos deuses.
Nesta novela, Lovecraft nos leva a uma verdadeira jornada por sua imaginação, aprofundando outros contos anteriormente citados.
14. O Caso de Charles Dexter Ward
“Mesmo depois, passou a ter a singular impressão - que a formação médica assegurava não ser mais do que uma simples impressão - de que os olhos do retrato nutriam uma espécie de desejo, se não de fato uma tendência, a seguir o jovem Charles Dexter Ward enquanto andava pelo cômodo."
O Dr. Willet, responsável pelo paciente Charles Dexter Ward, relata o estranho caso do rapaz que acompanhou durante toda a vida. Dos seus gostos da infância até os acontecimentos atuais, ele relata os horrores que a obsessão do jovem desencadeou em sua vida - e o preço que lhe foi cobrado.
Por se tratar de outra novela, e não um conto, essa história sintetiza muitos aspectos contemporâneos da obra de Lovecraft, ao contrário de A Busca Onírica por Kadath que foca em seu universo criado.

15. O Que a Lua Traz Consigo
“Impiedosa, a lua pairava logo acima desses horrores, mas os vermes túrgidos não precisam da lua para se alimentar.”
Este é mais um dos contos curtíssimos de Lovecraft, de mais ou menos duas páginas. Mas porque tão avançado na lista este número quase insignificante de páginas?
Sem conhecer outras obras do escritor, esse conto estaria quase deslocado de seus outros trabalhos. É curto, tem elementos de terror, mas falha em despertar qualquer tipo de emoção. No entanto, estas duas páginas transbordam toda a mitologia lovecraftiana.
16. O Horror de Dunwich
“Yog-Sothoth conhece a passagem. Yog-Sothoth é a passagem. Yog-Sothoth é a chave e o guardião da passagem. O passado, o presente e o futuro encontram-se em Yog-Sothoth.”
Na pequena cidade de Dunwich sempre existiu uma aura de desconforto nítida para os viajantes. Em especial nas pequenas montanhas além dos bosques. Era nessas montanhas que Lavinia Whateley, uma albina de 35 anos com leves deformações, passava boa parte do tempo.
Em 2 de fevereiro de 1913 seu filho nasce, Wilbur Whateley. Assim, eram 3 na antiga casa: Lavinia, Wilbur e o avô da criança, sobre quem as mais terríveis histórias de bruxaria eram sussurradas.
O rápido crescimento do garoto não passou despercebido e vários médicos o visitaram. Seu amadurecimento e inteligência também assustavam. Mas não era só isso que assustava no precoce rapaz.
17. A Sombra de Innsmouth
“Quanto mais eu olhava, mais o objeto me fascinava; e nesse fascínio havia um elemento perturbador que não se deixaria classificar ou explicar a duras penas."
Durante sua viagem para comemorar a recém atingida maioridade pela Nova Inglaterra, um jovem descobre um trajeto mais barato que o trem de Newburyport para Arkham. Se trata de um antigo ônibus, que as pessoas evitam pegar por passar pela cidade de Innsmouth.
Curioso sobre esta cidade que todos evitam falar, ele começa a buscar informações e logo descobre na biblioteca referências às estranhas joias que vem de Innsmouth.
Como se não bastasse a curiosidade, o objetivo de sua viagem – fins turísticos, antiquários e genealógicos – o levou a escolher a viajar pelo ônibus para conhecer a cidade da qual tão misteriosas joias relacionadas a uma depravada e pagã crença, “A Ordem Esotérica de Dagon”, surgiu.
18. Os Ratos Nas Paredes
“Eles precisam saber que foram os ratos; os escorregadios, apressados ratos que a correria nunca vai me deixar dormir."
O descendente da família De La Poer restaura e se muda para a antiga propriedade da família na Inglaterra, a Exham Priory. Após se mudar, ele e seus gatos frequentemente ouvem ratos correndo atrás das paredes. Algo que ninguém mais é capaz de ouvir.
19. A coisa na soleira da porta
“Posso ter certeza de que estou a salvo? Aqueles poderes sobrevivem a vida da forma física.”
Daniel Upton escreve um relato que, embora possam dizer que esteja louco, busca provar que, apesar de ter dado seis tiros na cabeça do melhor amigo, não é um assassino.
20. Um Sussurro Nas Trevas
“Meu Deus! Aqueles sussurros nas trevas, acompanhados de um odor mórbido e de vibrações!”
Albert N. Wilmarth, professor de literatura da Universidade de Miskatonic em Arhkam, recebe uma carta de Henry Wentworth Akeley que afirma que, embora existam, as intenções das Criaturas Siderais são nobres. Os cultos, as lendas e suas intenções nada passam de uma interpretação equivocada. E, para explicar melhor, convida o professor à sua casa.


Texto de Pedro Soler publicado originalmente em: http://papodehomem.com.br/

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