Tradução Mística do Filme Matrix Pt.2

Esses processos personalísticos que nos prendem a ilusão, são representados no filme pelos agentes da Matrix, programas sencientes que entram e saem em qualquer software conectado ao sistema deles. Fazendo eco as palavras dos sábios nos Vedas, Morfeu diz, que “Qualquer um ainda não libertado, é um agente em potencial da Matrix. Eles são todos e não são ninguém”. Os processos personalísticos, relacionam-se aos sete pecados capitais, “… eles são os porteiros, protegem todas as portas e tem todas as chaves.”. Às vezes, os seres humanos são vencidos por esses agentes da Matrix, alguns até pactuam com eles, como é o caso de Cypher. Ele é aquele viu a verdade, despertou para a realidade mais prefere a ilusão e a mentira. Ele, Cypher, diz ter percebido após nove anos (número equivalente aos degraus da escada de Jacó, que simbolicamente leva o homem do mundo terreno ao mundo espiritual), que “A ignorância é maravilhosa”. Dessa forma, pensam os magos negros, aqueles que fazem opção por Avidya, pela ignorância, que voltam as costas à Luz e mergulham
voluntariamente na escuridão.
Os que assim procedem, sempre acusam aos que lhes mostraram o caminho, de fraquezas e incapacidade, que eles mesmos possuem. Corroídos pelo ódio, pela luxúria e pela inveja, afirmam terem sido enganados, por seus Mestres, que quando fazem realmente jus a esse nome, tentaram sempre, guia-los na Boa Senda. Cypher, representa o traidor, que trai a sua própria natureza humana, ao submeter-se ao domínio das máquinas. Ele oferece a si mesmo, como pasto para as forças negativas que passa a servir, em troca de prazeres ilusórios. Age assim no intuito de satisfazer seus impulsos baixos, suas Nidhanas.
O iniciado, seguidor dos Mestres da Grande Fraternidade Branca, até que se torne verdadeiramente um Adepto, enquanto estiver encarnado, sentirá os apelos de seus veículos inferiores. Isso ocorre porque nesse estado, ainda possui elementos básicos em sua composição ainda por equilibrar e que por isso mesmo exigem satisfação. Apesar disso ele não os nega, mas os transmuta, canalizando-os para realizações reais que o libertem cada vez mais da ilusão da Maya, tornando-os elementos impulsionadores de sua evolução. Num determinado ponto do filme, inclusive, um dos membros da tripulação Mouse, fala com Neo sobre isso, dizendo-lhe, que “Negar os nossos impulsos é negar aquilo que faz de nós humanos”. Ciente disso, o verdadeiro iniciado é extremamente consciente de seus impulsos, não os recalcando hipocritamente para as regiões do subconsciente, onde irão se acumulando, como esqueletos no armário, de onde continuarão a atuar sem nenhum controle, disciplina ou educação, até invadirem como uma enchente de um rio bravio, a consciência, dominando-a e arrastando-a as maiores perversões. Por isso o verdadeiro iniciado, sabe que deve vigiar seus sentidos, para através de um sistema iniciático sério, de uma disciplina superior, não recalcar, mas trabalhar, transformar suas Nidhanas, ou tendências negativas, em Skandhas, ou características positivas.
Num determinado nível dessa etapa da iniciação de Neo, Morfeu o conduz até o Oráculo. Vemos que a entrada do elevador é guardada por um cego, que vê. Ele, o cego, que responde ao sinal que Morfeu lhe faz com a cabeça, representa os iniciados, guardiões da Luz, cegos para o mundo ilusório, mas iluminado para a realidade. Já dentro do elevador o Mestre diz então a Neo, para tentar “Não pensar em termos de certo e errado.”, pois para os que chegam ao Oráculo, certo e errado, bem e mal, feio e bonito, todos os pares de opostos se anulam. Às portas do Oráculo, Morfeu, o Mestre diz ao seu discípulo, “Só posso te mostrar a porta. Você tem de atravessá-la”, indicando assim que cada passo do discípulo em prova é dado por sua própria conta, pois na Senda da Iluminação ninguém caminhará, ou tomará as decisões por ele.
Porém, quando Neo coloca a mão na maçaneta da porta, esta lhe é aberta, mais uma vez por uma sacerdotisa. Essa atuação constante do elemento feminino, demonstra a necessidade da interação dinâmica de ambas as polaridades humanas, de acordo com certas regras esotéricas..
Assim macho e fêmea, interagem ciclicamente no processo iniciático de crescimento espiritual, através do entrelaçamento das forças de Fohat e Kundalini. Ao integrarem-se dessa forma, ambas as energias dão origem ao Andrógino Divino, um ser verdadeiramente equilibrado, mas que conserva as características do corpo que ocupa, se masculino, vive e relaciona-se como homem, se feminino, vive e relaciona-se como mulher, podendo em alguns casos fazer opção pelo Brahmacharya, ou voto de castidade. O resultado da integração dinâmica das polaridades cósmicas, é totalmente diferente das expressões caóticas homossexuais ou bissexuais, dois tipos que representam seres decaídos, em oposição ao Andrógino Divino, que é a perfeição evolutiva humana. Já dentro da sala do Oráculo, Neo encontra várias crianças, especialmente um menino, uma espécie de pequeno monge, do qual aprende alguns mistérios, sobre esse mundo ilusório, num episódio que lembra bem aquela passagem bíblica, onde o Cristo bíblico, ensina que aquele que não se tornar como estas crianças, não entrará no reino dos céus. Dentro do Oráculo, uma cozinha, onde a Pitonisa, ou profetisa (novamente uma mulher), manipulando um forno moderno, quebra as expectativas do discípulo. A cozinha nos faz lembrar o laboratório dos alquimistas e o forno o Athanor, ou forno utilizado pelos alquimistas, Adeptos da Arte Real.
Num determinado ponto de sua conversa ela, a Pitonisa, cita-lhe o celebre axioma socrático, “Conhece-te a ti mesmo”, que via-se as portas do oráculo de Delfos, o qual essa etapa do filme representa. Só que as portas do Oráculo de Delfos, as palavras citadas no filme, estavam escritas em grego e de forma mais integral exortavam, “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses.”.
A mulher que representa a Pitonisa do Oráculo, lhe afirma de forma metafórica, que “Ser o escolhido é como estar apaixonado. Ninguém pode te dizer se você está. Você simplesmente sabe. Não tem dúvida, nenhuma”. Assim ao lhe falar sobre o escolhido, ela descreve o processo de iluminação avatárica, pois este não é uma coisa que se busca e que se consegue, ou que fica-se esperando, ele simplesmente é, como algo que simplesmente acontece, e nesse ponto do filme, Neo, não é o escolhido. A Pitonisa, afirma que ele tem o dom, isso diríamos nós todos temos, mas ele parece que “está esperando por algo”. Quando Neo lhe indaga, a respeito do que poderia estar esperando ela lhe responde ” Sua próxima vida talvez”. Dessa forma, Neo age como a maioria das pessoas, que iniciam-se na Senda, e que protela para a próxima vida a iluminação, esperando, pensando que; Afinal ela não é para agora, quem sabe mais tarde…
Ao sair do Oráculo, Neo, encontra-se com Morfeu e este lhe adverte, “Que o que foi dito era para você e apenas para você”, assim é com tudo que é comunicado nas verdadeiras iniciações Assúricas, com aquilo que é falado do iniciador para o iniciando, de boca-para-ouvido, de maneira sutil e discreta, quase que imperceptivelmente.
Quando porém, os agentes de Matrix capturam Morfeu, um representante dos processos internos personalísticos, intelectualiza a existência humana e de forma convincente, compara o seu desenvolvimento humano sobre a terra, que na maioria das vezes, foi totalmente controlado pela personalidade caótica, ou seja por esses mesmos processos internos, ao o de um vírus. Dessa maneira, o agente se coloca como a cura para o mal, que segundo ele é representado pela maior de todas as criações de Deus na Terra, o Ser Humano, ignorando em seu discurso, o desenvolvimento do Espirito Humano, capaz dos maiores gestos de sacrifício, altruísmo e fraternidade, única esperança para o planeta. Esse Espirito Humano, quando plenamente desenvolvido, subjuga a natureza animal e mecânica e converte o Homem, na expressão de Deus na face da Terra. Esse espírito humano, quer o chamemos, Deus, Bramam, Ala, Jeová, Tao, opõe-se aos processos mecânicos, instintivos e animalescos, que controlam os seres ainda inconscientes, atuando de forma a libertar a Centelha Divina, promovendo o nascimento do Avatar, ou como é expresso no filme do Escolhido. Vemos isso, quando Neo toma a decisão de sacrificar-se, dando-se em holocausto pelo seu amigo e Mestre Morfeu.
Apesar de conhecermos intelectualmente o exposto acima, as esclarecedoras palavras de Morfeu, após ser resgatado devem ser consideradas; “Cedo ou tarde, você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho“.
Num determinado ponto do fim do filme a personagem Trinity, reproduz um dos mais antigos mitos da humanidade, ao trazer Neo de volta a vida, fazendo com que ele obtenha sucesso na última e derradeira iniciação conhecida por nós como Morte.
Quase no final do filme, vemos através das palavras do personagem principal, que o Avatar não significa um fim, mas um começo, de algo novo, ilimitado, sem fronteiras, um novo ciclo, livre de Maya, sem ilusão, onde tudo é possível ao ser desperto. Ele dirigi-se a Matrix, a estrutura geradora da ilusão, declarando-se decidido a “…mostrar a essas pessoas o que [Matrix] não quer que elas vejam. Vou mostrar a elas um mundo sem você. Um mundo sem regras, sem controles. Um mundo onde tudo é possível.”.
Sua última frase, dirigida a Matrix, a Maya, a Ilusão, ou melhor dizendo, dirigindo-se aquilo que torna possível esse processo de auto-hipnose, nossa personalidade, pode ser considerada como dirigida a cada um de nós. Ele fala calmamente sobre a decisão que deixa a cada um dos espectadores, “Para onde vamos daqui, é uma escolha que deixo para você.”.
O filme termina, com Neo saindo do chão e voando, reproduzindo o arquétipo da ascensão, ou da subida aos céus, que simboliza a realização plena do iniciado, já tornado um verdadeiro Adepto, fazendo parte agora de outro processo evolutivo, relativo ao desenvolvimento dos deuses.

"O ser humano vivencia a si mesmo, os seus pensamentos, como algo separado do resto do universo, numa espécie de ilusão de óptica da sua consciência.
E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe aos nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas.
A nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza.
Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte da nossa liberação e o alicerce da nossa segurança interior".

(Albert Einstein)

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