A Alta Matemática dos Monumentos Megalíticos

Realmente, esse modo de encarar os monumentos megalíticos teria sido completamente esquecido pela arqueologia contemporânea se não fosse o trabalho de um homem que dedicou metade da sua vida ao tema.
Professor de engenharia em Oxford de 1945 a 1961, Alexander Thom começou a interessar-se pelos métodos da engenharia megalítica durante uma viagem à Escócia, na década de 30. A partir da grande pedra do círculo existente na ilha Callanish, na Escócia, Thom afirmou que esses alinhamentos se dirigiam para o norte, "uma coisa extremamente difícil para os povos daquela época, já que a estrela polar não estava onde está hoje".
A partir de então, passou grande parte de seu tempo estudando os campos e montanhas britânicos, examinando meticulosamente os monumentos que encontrava. Na época em que publicou suas conclusões em Sítios Megalíticos Britânicos (1967), já estudara cerca de 600 desses locais, afirmando então que todos esses círculos foram desenhados geometricamente e alinhados dentro de um incrível modelo de perfeição.
Thom estudou a "medida megalítica", uma unidade que é igual a 2,72 pés (cerca de 83 centímetros). Com essa medida constante, os construtores megalíticos fizeram não apenas círculos, mas também elegantes elipses e figuras ovais, tudo baseado numa geometria que mostra o conhecimento de certas regras de ângulos cuja descoberta é normalmente creditada à escola de Pitágoras, mais de mil anos após.
Como em Pitágoras, há a evidência de que certos números eram considerados mágicos por esses engenheiros pré-históricos: o 5, o 12 e o 14, ou 8, 15 e 17, usados na dimensão dos triângulos. Isso ainda implica o conhecimento do pi, milênios antes dos gregos.
Nas gigantescas estruturas em Stonehenge, Carnac e Avebury, há uma harmonia geométrica que chega a ser assustadora: no meio da extraordinária fileira de pedras de Carnac há uma espécie de "joelho", um ponto onde repentinamente essa fileira muda de direção. Thom nota a forma como isso foi executado, com o uso de dois perfeitos triângulos pitagóricos- milênios antes do nascimento de Pitágoras - e declara: "É algo que qualquer engenheiro, de qualquer época da história do mundo, poderia ficar orgulhoso de ter produzido" .
Os construtores megalíticos foram matemáticos profundamente conhecedores de sua ciência e operavam esse saber provavelmente bem antes que qualquer outro povo no mundo o pudesse fazer.
Apenas essa idéia já era demais para a ciência ortodoxa, mas a tese de Thom não parava aí: eles eram também astrônomos altamente hábeis. Usando o material local pedras marcadas previamente, entalhes em montanhas, plataformas especialmente feitas - esses antigos sábios construíram círculos de pedras que, na verdade, eram observatórios. Nesses locais não mediam apenas coisas relativamente sim pies, c orno o surgimento do Sol no verão ou no inverno, mas uma enorme gama de sofisticados movimentos que requerem uma acurada observação - por exemplo, fenômenos que se dão apenas uma em mil vezes. Eram hábeis o bastante para detectar a chamada "pequena paralisação" da Lua, um fenômeno causado por sua órbita elíptica e que se repete a cada 18,6 anos. É claro, para descobrir essa minúscula irregularidade na órbita lunar foi necessário um profundo conhecimento de astronomia - além de muitas gerações de estudos científicos.
Ainda que tudo isso tenha sido levantado por Thom em seu livro, um outro pesquisador, Gerald Hawkins, professor de astronomia da Universidade de Boston (Estados Unidos), ainda conseguiu novas provas para a tese que afirma o altíssimo desenvolvimento científico desses misteriosos povos pré-históricos. C. A. Newham, outro pesquisador, num livro que hoje é vendido como guia oficial de Stonehenge, afirma que o local foi realmente um centro astronômico fato de que, ao que parece, os excursionistas que lá estiveram jamais duvidaram: uma prova disso é que, , mesmo amadores e simples curiosos sempre encontraram um local privilegiado para ver uma ou outra estrela em Stonehenge.
Mais ainda: alguns buracos experimentais, lá feitos através dos anos, estabeleceram exatamente o ponto do horizonte onde a Lua e o Sol desapareciam, demonstrando definitivamente a capacidade científica dos que construíram o monumento.
O professor Richard Atkinson, da Universidade de Cardiff (Gales), inicialmente ironizou as teses de Thom e Hawkins num livro chamado Luar de Stonehenge. Mas não permaneceu atado a essa posição. Pelo contrário: reviu seu pensamento tempos depois, e acabou escrevendo novas teses, que concordavam com os pesquisadores que criticara.

Uma universidade na idade da pedra
Para ele, o trabalho de Thom derrubou o "modelo conceitual da pré-história da Europa, que foi adotado durante todo o século atual e mesmo agora está apenas começando a cair. Nos termos desse modelo, é quase inconcebível que meros bárbaros' da remota extremidade do continente tivessem um conhecimento matemático e de sua aplicação, um conhecimento apenas um pouco inferior - se é que realmente o é - àquele do Egito na mesma época ou da Mesopotâmia, bem depois. Não é tão surpreendente, pois, que a maioria dos historiadores da pré-história ainda ignore o trabalho de Thom, porque eles não o entendem e é mais confortável permanecer como estão. Eu também passei por esse processo, mas cheguei à conclusão que rejeitar as teses de Thom porque elas não estão de acordo com o modelo de pré-história com o qual fui criado acaba me obrigando a aceitar coisas ainda mais improváveis" .
Na verdade, pouco se sabe dos povos que criaram tais monumentos. Em 1976, Euan MacKie, do Hunterian Museum, de Glasgow (Escócia), afirmou ter descoberto um sítio pré-histórico chamado Durrington Walls, nas proximidades de Stonehenge, onde as escavações mostraram a evidência de uma dieta mais rica do que a comum na época. Além disso, diz ainda MacKie. foram descobertos indícios de que os habitantes do local conheciam a tecelagem. É pouco, mas é o que se sabe sobre esse povo desconhecido.
Seja de onde for que esse povo tenha vindo, os testes com radiocarbono demonstraram que as construções datam de 4500 a.C., quando mais próximas do litoral atlântico, e começam a ser mais atuais - isto é, historicamente mais novas - à medida que entram para o interior.
É possível que estes monumentos sejam uma evidência indireta de uma cultura antiqüíssima, hoje desaparecida, que deixou parte de seu conhecimento em tais locais? Ou teria todo esse saber surgido independentemente, sob a influência de um simples e original gênio? Ou ainda, segundo especula MacKie, esse povo saiu do Mediterrâneo até o sul de Portugal e, a partir daí, se espalhou pela costa atlântica européia?
Ninguém sabe a resposta. Ao mesmo tempo, é também intrigante a forma como esse saber, esse conhecimento astronômico, passou de uma geração para a outra, entre esses povos, sem que nada fosse escrito. Como disse Richard Atkinson, é possível supor que "as datas importantes astronomicamente não foram publicadas, mas transmitidas, através da palavra dos seus estudiosos para os que usassem essas atas, na forma de versos épicos que precisavam apenas ser memorizados e reproduzidos" .

O Papel dos Druidas
Quando chegou à Inglaterra, 1500 anos após a fase final de Stonehenge, Júlio César escreveu que os druidas "conseguiam repetir um grande número de versos de cor e muitas vezes passavam vinte anos nesses estudos; consideravam perigoso deixar tais estudos escritos por duas razões: esconder seus conhecimentos do homem vulgar e exercitar a memória dos estudantes".
Assim, é possível que os druidas tenham sido os herdeiros da antiqüíssima sabedoria dos construtores megalíticos, e as atuais e costumeiras teses que tentam relacionar Stonehenge e 'os druidas podem ser realmente verdade. Hoje, inclusive, essa possibilidade é vista cada vez com mais seriedade.
O que é certo é que esse período de centenas de milhares de anos, durante o qual floresceu a cultura que deu origem aos monumentos megalíticos - provavelmente a cultura de vida mais longa que o mundo já conheceu - culminou na construção de Stonehenge, em torno de 1850 a. C.
Que poder impeliu o povo desse tempo a despender tanto esforço físico e intelectual no erguimento desses monumentos é algo ainda hoje totalmente admirável e inexplicável. Muitos afirmam que a resposta está no fato de que os povos de então viviam mais perto da natureza do que fazemos agora, e seu poder estava de alguma forma ligado ao movimento do Sol, da Lua, planetas e estrelas. Isto, no entanto, não pode ser considerado uma explicação: é bem mais uma base hipotética, apenas um ponto de partida para se responder à questão.
Fonte: Stonehenge, de Fernand Niel.Hemus - Planeta Extra – Grandes Enigmas nº 13

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